terça-feira, 23 de novembro de 2010

Assistindo a tudo de fora

Madrugada de sábado. Aquele garoto que quase agonizava para escrever sente-se muito mais leve. Sente que o mundo já não exerce mais tanta gravidade sobre ele; sua cabeça mais aberta, mais crítica, mais segura de si, mais egocêntrica, cruel. Cruel? Pois o que realmente se faz cruel nisso tudo? Os pensamentos dele ou o que de fato acontece? Sem nenhum disfarce, exposto pra quem quer ver, porém tem preguiça de enxergar. É essa preguiça de enxergar que se junta ao comodismo e o resultado: mais comodismo, mais atraso, menos amadurecimento.
O garoto olha para tudo aquilo novamente e vê que algo não está certo – aliás, várias coisas – e vê pessoas por quem ele sente respeito amável totalmente retrocedendo. A hipocrisia nunca esteve tão evidenciada em práticas repugnantes, disfarçadas de nobres, lindas e admiráveis. Os olhos dele assistem tristes ao que pode ser uma das maiores burrices no campo afetivo que as pessoas andam cometendo – desde pensar só em si para agir para satisfazer seu ego e desejo, até fraquejar e entregar o jogo acreditando que não há problema nenhum nisso – e não se arrependendo, o que é pior. Mas aquela madrugada de sábado traz o silêncio, traz sereno e a paz necessária para enxergar que, depois de toda tempestade, o céu abre e ilumina o que for pra continuar e apagar o que não estiver ali pra continuar sendo iluminado.
Não dá pra falar em destino, pois, se ele realmente existe, não saberemos e, se ele não existe, não adianta ficarmos pensando, mas sim agindo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Diário da angústia anunciada

Quarto fechado. Música de teor nostálgico tocando com volume baixo. Papel e caneta. O relógio marca as horas que já não importam mais. O momento era só dele. Dele e de suas ideias, angústias, sofrimentos, sentimentos. Sentado na cama com as costas encostadas na parede – a cabeça por vezes recostada como se estivesse colocando as coisas no lugar dentro daquele garoto – e as pernas formavam um ângulo que possibilita o apoio para escrever.
Para ele, agora só faltava pôr as coisas em ordem para que, assim, pudesse despejá-las naquela folha que papel que parecia pedir que algo fosse escrito. Mas, antes, uma pausa: solta a caneta, estica as pernas para relaxar, mais uma vez recosta a cabeça na parede. As mãos vão à cabeça e com a ponta dos dedos e a palma da mão – ao mesmo tempo – coçava a cabeça, como se fizesse massagem; ou ainda tentando expelir algo de sua mente que fizesse com que suas idéias se organizassem. Em vão. Toma um copo d’água e então se sente refrescado, o que lhe traz o sono.
Dormindo, o garoto sonha diferentes situações, sente diferentes sensações. Resolve dizer tudo àquela garota e deixá-la ciente do que se passa com o coração e sua cabeça. Ao menos em seu sonho, tudo dá certo. Finalmente, acorda: decepcionado por ter sido um sonho, pretensioso, confiante e determinado. Instante depois volta totalmente à realidade e o medo te cerca novamente. A música ainda toca em seu quarto – agora escuro, pois anoiteceu – e quando ele acende a luz se depara com aquela folha de caderno vazia. Folha vazia e sua mente fervendo.
Na angústia da insegurança, no medo do futuro, na espera do acaso, no receio ao próprio comportamento, o garoto parece dar sinais de que vai despejar suas idéias naquele papel. Empunha a caneta e começa a escrever. Percebe que sabe o que quer, porém teme que esteja querendo o que não deveria querer, teme feridas, teme quedas e nesse temor e insegurança ele espera que o alívio de sua angústia esteja ali naquele texto que, minutos mais tarde, terminaria. Ele espera. E, por enquanto, só espera pela luz que virá.
Procurando acreditar em demagogia e clichês: no fim, tudo dará certo.